“Discursos de ódio têm sido ditos sem o menor pudor e em qualquer espaço social, travestidos de uma proposta de liberdade de expressão”
Como
surgiu a ideia da roda de conversa?
Karina Leonardo: Diante de uma
conjuntura de discursos de ódio ditos sem o menor pudor e em qualquer espaço
social, travestidos de
uma proposta de liberdade de expressão, percebi que o racismo e seus reflexos
são temas que são ditos de maneira deliberada e gratuita. É preciso discutir o
racismo, é preciso desmitificar a falsa ideia de um Estado, neutro, laico e
tolerante. Há uma estrutura social que organiza e sustenta essa ideia de
igualdade racial que mais mascara do que enfrenta realidade dos fatos. Essa
questão incomoda não somente algum docente, movimentos sociais, tem incomodado
também grupos religiosos preteridos socialmente, como é o caso dessa roda de
conversa, fomos procurados pelo grupo religioso cristão, querendo que
contribuir com a discussão da tolerância religiosa.
Phablo Freire:
A ideia do seminário surgiu como uma necessidade de dar voz aos indivíduos que
passam pessoalmente pelas experiências de intolerância religiosa e pela
experiência de ausência de laicidade. A roda de conversa surge como
possibilidade de escutar os protagonistas dessas situações em relação às
possibilidades de saídas e de alterações dessa dinâmica.
O que
podemos esperar do evento?
Phablo Freire: O evento vai ter como núcleo a exposição da experiência
desses indivíduos, o ponto de vista desses indivíduos sobre a experiência de
tolerância e intolerância na sociedade e o diálogo de grupos antagônicos, então
a roda de conversa vai expor esse encontro desses grupos.
Karina
Leonardo: O que podemos esperar desse evento é que não queremos trazer a ideia
de um grupo majoritário de cunho tolerante está permitindo ao grupo oprimido a
liberdade religiosa como uma benesse de uma superioridade, queremos que as
relações sejam de igualdade de oportunidades, não estamos nos falando de um
ecletismo, mas de uma contribuição respeitosa de valorização dos direitos
humanos e sociais.
Qual sua visão sobre o preconceito e a pluralidade religiosa na região?
A intolerância religiosa na região é relacionada ao racismo?
Phablo Freire: Existe preconceito na nossa região, quando existe a naturalização da diferença, nós não temos a ideia de que os indivíduos são todos iguais, nós não temos a ideia praticada, naturalizada, nós temos uma série de práticas pequenas e mais sutis e outras mais complexas que elas são orientadas pela ideia de que os indivíduos são diferentes, não diferentes em suas essências, mas de grupos privilegiados e outros que são preteridos. Então esse é o núcleo do preconceito. E pluralidade religiosa nesse país não é tratada com diferença de ser, mas como a diferença de quem tem mais direito e quem tem menos direito. Então é importante que enfrentemos esses problemas sociais para que possamos corrigir essas dívidas históricas, para que se reconheça e se altere essa dinâmica social.
A intolerância
religiosa tem uma relação com o racismo por que toda a construção dos direitos
para a população negra foi construída sob a perspectiva da subalternidade e
submissão, mas é importante entender que ela não, somente, ligada ao racismo,
precisamos entender que é possível haver intolerância religiosa com todos
aqueles que não fazem parte de um grupo privilegiado no Brasil é um grupo
Cristão. Não significa dizer que eles estão/são errados, mas que este grupo é beneficiado de
toda a lógica que estrutura a nossa sociedade, sendo assim tudo que for
diferente do ideário cristão, sendo ou não de matriz África, sendo ou não
ligada ao negro é tido como subalterno, logo é importante entender que a
intolerância religiosa é maior que o racismo.