sábado, 18 de maio de 2019

Sobre pluralidade religiosa: roda de conversa na FACAPE

Discursos de ódio têm sido ditos sem o menor pudor e em qualquer espaço social, travestidos de uma proposta de liberdade de expressão




Terça, 21 de maio (18h30), acontece na Facape uma Roda de Conversa sobre "Pluralidade, consciência e diversidade de religiões".A mesa terá a presença de Mãe Stella de Oxossi, Raíssa Carmen, Pai Jorge e Pastor Luciano e Maíra Vida. Acompanhe a entrevista por email do NEAFRAR com Karina Leonardo e Phablo Freire.


Como surgiu a ideia da roda de conversa?
Karina Leonardo: Diante de uma conjuntura de discursos de ódio ditos sem o menor pudor e em qualquer espaço social, travestidos de uma proposta de liberdade de expressão, percebi que o racismo e seus reflexos são temas que são ditos de maneira deliberada e gratuita. É preciso discutir o racismo, é preciso desmitificar a falsa ideia de um Estado, neutro, laico e tolerante. Há uma estrutura social que organiza e sustenta essa ideia de igualdade racial que mais mascara do que enfrenta realidade dos fatos. Essa questão incomoda não somente algum docente, movimentos sociais, tem incomodado também grupos religiosos preteridos socialmente, como é o caso dessa roda de conversa, fomos procurados pelo grupo religioso cristão, querendo que contribuir com a discussão da tolerância religiosa.
Phablo Freire: A ideia do seminário surgiu como uma necessidade de dar voz aos indivíduos que passam pessoalmente pelas experiências de intolerância religiosa e pela experiência de ausência de laicidade. A roda de conversa surge como possibilidade de escutar os protagonistas dessas situações em relação às possibilidades de saídas e de alterações dessa dinâmica.

O que podemos esperar do evento?
Phablo Freire: O evento vai ter como núcleo a exposição da experiência desses indivíduos, o ponto de vista desses indivíduos sobre a experiência de tolerância e intolerância na sociedade e o diálogo de grupos antagônicos, então a roda de conversa vai expor esse encontro desses grupos.
Karina Leonardo: O que podemos esperar desse evento é que não queremos trazer a ideia de um grupo majoritário de cunho tolerante está permitindo ao grupo oprimido a liberdade religiosa como uma benesse de uma superioridade, queremos que as relações sejam de igualdade de oportunidades, não estamos nos falando de um ecletismo, mas de uma contribuição respeitosa de valorização dos direitos humanos e sociais.

Qual sua visão sobre o preconceito e a pluralidade religiosa na região?
A intolerância religiosa na região é relacionada ao racismo?

Phablo Freire: Existe preconceito na nossa região, quando existe a naturalização da diferença, nós não temos a ideia de que os indivíduos são todos iguais, nós não temos a ideia praticada, naturalizada, nós temos uma série de práticas pequenas e mais sutis e outras mais complexas que elas são orientadas pela ideia de que os indivíduos são diferentes, não diferentes em suas essências, mas de grupos privilegiados e outros que são preteridos. Então esse é o núcleo do preconceito. E pluralidade religiosa nesse país não é tratada com diferença de ser, mas como a diferença de quem tem mais direito e quem tem menos direito. Então é importante que enfrentemos esses problemas sociais para que possamos corrigir essas dívidas históricas, para que se reconheça e se altere essa dinâmica social.
A intolerância religiosa tem uma relação com o racismo por que toda a construção dos direitos para a população negra foi construída sob a perspectiva da subalternidade e submissão, mas é importante entender que ela não, somente, ligada ao racismo, precisamos entender que é possível haver intolerância religiosa com todos aqueles que não fazem parte de um grupo privilegiado no Brasil é um grupo Cristão. Não significa dizer que eles estão/são errados, mas que este grupo é beneficiado de toda a lógica que estrutura a nossa sociedade, sendo assim tudo que for diferente do ideário cristão, sendo ou não de matriz África, sendo ou não ligada ao negro é tido como subalterno, logo é importante entender que a intolerância religiosa é maior que o racismo.

Karina Leonardo: Temos acompanhado uma sucessão de eventos ligados à intolerância religiosa com as religiões de matrizes africanas, como destruição de templos religiosos, e agressões verbais de pessoas que professam essas religiões. Infelizmente, embora, a intolerância religiosa tenha ligação basilar com o racismo, ela aparenta característica mais complexa ganhando ligação a outras religiões que se diferem da religião predominante (cristã), contudo as agressões na região são majoritariamente ligadas às religiões de matrizes africanas.



II Roda de Conversa do Mês das Consciências Negras

  Nesta quarta, 13/11, às 17h, damos continuidade a nosso ciclo de Rodas de Conversa, dentro da programação do já tradicional Mês das Consci...